domingo, 8 de abril de 2012

MISSA DO CRISMA

 
MENSAGEM DE DOM ODELIR PARA OS SACERDOTES DA DIOCESE DE SOBRAL



Quinta-feira Santa 2012
Caros irmãos no sacerdócio e filhos no presbitério,
Aquele que nos chamou é fiel. 1Ts 5,24a.
Aproxima-se a grande festa da Páscoa que nos deu vida nova e nos tornou, por puro dom de amor, filhos amados do Pai. Em virtude disso, envio-lhes esta breve mensagem com o objetivo de refletirmos um pouco sobre duas coisas de fundamental importância para nossa vida. A primeira delas é nossa identidade de presbíteros e a segunda, decorrente da primeira, a comunhão que deve existir entre nós como irmãos e de nós para com o povo de Deus de quem somos servidores, e isso bem o veremos por ocasião da Missa da Ceia do Senhor.No tocante ao primeiro tema, o da identidade presbiteral, tomando por base o texto de Pe. Libânio que serviu de reflexão ao 14º ENP, cujo tema foi “A Identidade e a Espiritualidade do Presbítero no Processo de Mudança de Época”, ocorrido agora no início do mês de fevereiro do presente ano, somos convidados a aprofundar nossas reflexões acerca do que nos faz ser aquilo a que somos chamados: a nossa própria identidade, aquele algo que, apesar das diversas mudanças  socioeconomicoculturais subjaz, ou seja, permanece na raiz de nossas vidas e de nossa opção dando o suporte necessário para que não nos percamos diante da crise do tempo e da avalanche de propostas que a sociedade nos faz.
Na perspectiva de Pe. Libânio há duas identidades: a presbiteral e a do presbítero. A primeira, ideal, diz respeito àquilo que a sociedade espera do padre, bem como a própria Igreja em seus documentos oficiais. A segunda, real, por outro lado, é a que se forja nas lutas quotidianas. Nossa tarefa seria dar aquele salto, ou ao menos sua busca, do real ao ideal, daquilo que o padre é para aquilo que a sociedade e a Igreja esperam dele. E isso se pode ver claramente no pensamento de Pe. Libânio que diz: “na identidade do presbítero, ganham importância a subjetividade, a realização pessoal, a felicidade, a clareza do projeto de vida pessoal. Assume-se pessoalmente a identidade presbiteral, que passa a ser a identidade do presbítero, dentro do seu histórico existencial. Infelizmente, há muitos irmãos nossos, que não conseguem fazer a síntese destas duas identidades”.
Devemos também levar em consideração que a identidade própria do presbítero não se faz nem existe deslocada da colegialidade que lhe é característica. O presbítero só o é, enquanto está ligado ao presbitério, e por conseqüência, ao próprio bispo de cujo ministério sacerdotal participa. Por isso, vemos que a sua identidade também está ligada à comunhão presbiteral que em última instância, faz parte da comunhão de toda a Igreja. Para nos servir de base, tomemos agora um verso do Evangelho de S. João: que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim e eu e ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Jo 17,2. Deste breve texto depreende-se que o discípulo de Jesus não pode viver isolado ou vendo no seu irmão mais próximo um concorrente ou um rival, coisa própria da sociedade hodierna. De forma alguma isso deve existir entre nós.
Com efeito, nenhum de nós atua isoladamente, pois somos membros do único Corpo de Cristo que é a Igreja. E todos estamos ao serviço desse Corpo como “servos da comunhão eclesial”. Mas, para servirmos à comunhão eclesial, temos que ser antes construtores da comunhão presbiteral. Pois não é possível estar ao serviço da comunhão na comunidade cristã sem exercitar continuamente a arte da comunhão no presbitério.
E como podemos exercitar essa arte de comunhão? Antes de mais, inspirando-nos no mistério da comunhão trinitária. É na Trindade que se fundamenta o mistério da comunhão eclesial que nos levará a mostrar, pelo próprio modo de viver, a expressões concretas de comunhão com os outros membros do presbitério, acolhendo-os e amando-os não apenas por motivações humanas de ordem psicológica ou sentimental, mas com base na luz da fé e com desejo sincero de cumprir a vontade de Deus (Mc 3,35), que tem muito mais valor e exerce mais força do que os laços familiares.
Cada um de nós pode exercitar a arte da comunhão eclesial e presbiteral considerando os “outros como um dom para nós”, esforçando-nos por descobrir o seu lado positivo,  fazendo o que está ao nosso alcance para os conhecer melhor, escutando-os, consultando-os e caminhando lado a lado com eles.
O exercício da comunhão eclesial e presbiteral exige atitudes de vigilância. Pois ninguém, nem mesmo aqueles que foram eleitos por Deus para serem “servos da comunhão eclesial” estão isentos de tentações. E são muitas as tentações que podem insinuar-se na nossa vida. A tentação do individualismo, da ostentação e do isolamento auto-suficiente que podem levar à incapacitação para a comunhão presbiteral. A tentação do autoritarismo para a qual S. Pedro nos adverte na sua primeira carta (5,3), com palavras sábias e inspiradas: não exerçais o poder “como donos daqueles que vos foram confiados, mas como modelos do rebanho”.
A natureza de comunhão da Igreja, a que servimos ministerialmente, desafia-nos a que caminhemos juntos na história para o Reino, se queremos viver a comunhão com autenticidade. A comunhão da Igreja vive-se caminhando juntos, em atitude de entreajuda franca e sincera: os fiéis com os presbíteros, os presbíteros com os presbíteros, os presbíteros com o bispo, o bispo diocesano com o bispo de Roma.
Dar as mãos, abrir os corações, partilhar as responsabilidades e viver a lei evangélica do amor, tal como Jesus Cristo no-la deixou, será sem dúvida o grande sinal de credibilidade que nós os presbíteros podemos dar aos cristãos e a todos os homens e mulheres do nosso tempo. Como seria consolador se os fiéis das nossas comunidades reconhecessem na vida fraterna dos presbíteros um modelo de vida evangélica e fossem levados a dizer o que se dizia dos primeiros cristãos: Vede como eles se amam!
Portanto, o caminho para alcançar uma vida sacerdotal fecunda passa pela luta interior contra o orgulho e toda forma de estupidez. Somos chamados a sermos pastores humildes, serenos e afáveis, sem, contudo, perder a firmeza que consola, estimula e amadurece o rebanho quando exercida na força do Ágape de Cristo. Para tanto temos os preciosos remédios da Santa Mãe Igreja ao nosso dispor e ao nosso favor: a vida de oração, a Eucaristia diária, a Liturgia das Horas, a caridade, a correção fraterna, a formação contínua, boas leituras e a reconciliação amiúde através do Sacramento da Confissão. Uma vida marcada pelo despojamento e pela pobreza é o indicativo de que estamos a caminho da santidade  sacerdotal.
Meus queridos padres,
Na missa do Crisma renovaremos juntos, diante do Povo de Deus, as promessas que livremente fizemos, no dia de nossa ordenação sacerdotal. Será para nós não apenas uma recordação, mas uma ratificação de nossa promessa de amar ao Pai, a Cristo e a sua Igreja, com um amor de exclusividade total, para sempre, e sem esperar retribuição na Terra. O amor, quando verdadeiro, ama pela necessidade de amar. Nada quer, nada deseja, nada espera, apenas AMA!
Somos de Cristo, só Dele, para sempre, na Igreja, a serviço do povo que nos é confiado, por causa do Reino. Podemos repetir com São Paulo: Cristo é o nosso viver. Sabemos em quem colocamos nossa confiança. Tudo podemos Naquele que nos conforta.
Nossa Senhora, Mãe dos Sacerdotes, rogai por nós!
Dom Odelir José Magri, mccj
Bispo Diocesano

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