Quem é este a quem condenamos: ENTENDENDO JUDAS
ISCARIOTES
Na Grande Semana Santa,
muitas pessoas aproveitam para realizar um grande retiro espiritual, pra
refletirem acerca de suas atitudes, pedirem perdão pelos erros e assumirem o
compromisso de não mais voltarem às mesmas atitudes errôneas. Graças a Deus que
este tipo de pensamento surge em nossa comunidade de fé. Em uma ocasião,
conversando com um grupo pequeno de pessoas, perguntei: “Quais as maiores
personagens da Semana Santa?” Como resposta - já esperada - ouvi. “Jesus
Cristo, Maria com suas dores, todos aqueles que se envolveram na morte de Jesus
e, por fim, o Cristo ressuscitado.” Diante das respostas, continuei a
perguntar: E Jesus, na hora de sua morte pediu perdão por aqueles que não
sabiam o que faziam. Quem eram eles? Responderam: cada um de nós. Continuei: e
nós devemos perdoar? Sim, com o mesmo tom e rapidez responderam.
Por traz destas informações,
infelizmente, muitas vezes falamos algo que aparentemente em nós já existem
respostas prontas, o que nos leva a crer que não entendemos o que estamos a falar.
Sabemos que devemos perdoar, porém, nem sempre perdoamos. Numa determinada
viagem passando em um modesto lugar, em uma estrada, isoladamente, encontrei
uma outra personagem que fez parte da história de Jesus e que não foi citada em
meu diálogo com os amigos: JUDAS.
JUDAS é aquele que na lista
dos doze sempre é citado em último lugar. Ao vê-lo lá, na beira da estrada isolado,
sozinho, pendurado e amarrado em uma vara enorme, recordei o sentimento que
surge nas pessoas quando são colocadas diante desta figura ou deste nome: sentimento
de reprovação e condenação. Mas terá sido criado “o homem Judas” na história da humanidade apenas para ser aquele que
entregou Jesus? Jesus, na confissão de Pedro, apresenta Judas como um diabo,
aquele que deveria entregar a Jesus (cf. Jo 6,67-71); já no fim do ministério
público de Jesus no relato da unção em Betânia, João apresenta Judas como o que
iria trair a Jesus. Em Mateus 26, 20-25, somos colocados diante de uma ceia de
Jesus com os Doze e na ocasião acontece o anúncio da traição de Judas. Jesus
sabia que um iria traí-lo e diz: “Ai daquele por quem o Filho do homem for
entregue! (...) melhor seria nem ter nascido.” Judas se acusa perguntando se
será ele, Jesus responde: “Tu o dizes!”. Em Mateus 26,48 Judas é mais uma vez
chamado de traidor. Dentro do relato da paixão, quando feita referência a Judas
se fala que ele estava traindo Jesus (Jo. 18,2.5).
Percebamos que Judas na
Sagrada Escritura fica marcado como o que
iria trair ou como o que traiu.
Nos evangelhos sinóticos (semelhantes – Mateus, Marcos e Lucas) quando se fala
da lista dos Doze Judas é apresentado como aquele que já traiu Jesus (Mt.10,4;
Mc. 3,19; Luc. 6,16). Portanto, podemos afirmar que a traição de Judas a Jesus
se dá quando conversa ou no momento em que firma um trato com os inimigos de
Jesus (Mt.26,14-26) e na ocasião do beijo dado em Jesus (Mt. 26,46-50). Mesmo
traindo, Judas - o traidor de Jesus - é chamado e falado como “um dos Doze” (Mt.26,
14.47;Mc. 14,10.20; Jo 6,71; Lc.22,3), afinal foi escolhido por Jesus como
companheiro íntimo para o ajudar na missão. Jesus por muitas vezes o chamou de
“um de vós” (Mt. 26,21;Mc.14,18;Jo.6,70;13,21).
Jesus em muitas ocasiões fez
belas catequeses a respeito do perdão. Ensinou a perdoar quantas vezes fossem
necessárias (Mt.18,21-22); mostrou que
assim como Deus perdoa, nós também devemos perdoar (Mc.11,25-26); Na correção
fraterna, mostra a infinitude do perdão (Lc. 17,3-4); apresenta a necessidade
do exercício do perdão (Cl 3,13); apresentou-nos sua ação em derramar seu
sangue para nos perdoar (Mt.26,28). Enfim, Jesus muito falou sobre o perdão e
pediu a cada um de nós que desenvolvêssemos a capacidade de perdoar, de amar a
Deus e ao outro como nós mesmos.
Na tarde de sexta feira
Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”. (Lc.23,34). Será
que Judas tinha noção do pecado, do erro, do mal que ele estava cometendo? O
certo é que por Jesus ele foi perdoado. Quando percebeu o mal cometido, por
meio de palavras e ações mostrou arrependimento. Conta o evangelista Mateus que
ao ver Jesus condenado, Judas sentiu remorso e foi devolver as trinta moedas
aos anciãos e chefes dos sacerdotes. E falou: Pequei, entregando um sangue
inocente (Cf. Mt. 27,3-5), depois optou por enforcar-se. Jesus pediu perdão,
nós, na Semana Santa pedimos perdão, mas será que aquele homem amarrado,
pendurado esperando ser queimado por todos nós como uma grande diversão foi
perdoado?
Hoje, ao passar pelo mesmo
lugar onde avistei o boneco de pano pendurado representando Judas já não existia
mais. Já virou pó caso tenha sido queimado, já foi destruído, derrubado e deve
ter apanhado bastante, conforme se faz na cultura popular. E, infelizmente mais
uma vez pregamos a paz, experimentamos o perdão de Deus, mas ainda nos demos o
direito de condenar, de julgar e de conservar o ódio, contrariando as palavras
de Jesus. Aqueles que sentiram na pele o perdão, foram os espectadores da falta
de perdão, pois cultivaram a falta de perdão no ato de queimarem ou baterem
naquele que entregou o Filho do Homem.
Na continuação do estudo
sobre Judas depois iremos pensar um pouco acerca do motivo de Judas “escolhido
por Jesus” entregar a Jesus. Aguarde!
Pe. Antonio Denilson - Pároco de Taperuaba
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