domingo, 31 de março de 2013

Quem é este a quem condenamos? Entendendo JUDAS ISCARIOTES


Quem é este a quem condenamos: ENTENDENDO JUDAS ISCARIOTES


Na Grande Semana Santa, muitas pessoas aproveitam para realizar um grande retiro espiritual, pra refletirem acerca de suas atitudes, pedirem perdão pelos erros e assumirem o compromisso de não mais voltarem às mesmas atitudes errôneas. Graças a Deus que este tipo de pensamento surge em nossa comunidade de fé. Em uma ocasião, conversando com um grupo pequeno de pessoas, perguntei: “Quais as maiores personagens da Semana Santa?” Como resposta - já esperada - ouvi. “Jesus Cristo, Maria com suas dores, todos aqueles que se envolveram na morte de Jesus e, por fim, o Cristo ressuscitado.” Diante das respostas, continuei a perguntar: E Jesus, na hora de sua morte pediu perdão por aqueles que não sabiam o que faziam. Quem eram eles? Responderam: cada um de nós. Continuei: e nós devemos perdoar? Sim, com o mesmo tom e rapidez responderam.
Por traz destas informações, infelizmente, muitas vezes falamos algo que aparentemente em nós já existem respostas prontas, o que nos leva a crer que não entendemos o que estamos a falar. Sabemos que devemos perdoar, porém, nem sempre perdoamos. Numa determinada viagem passando em um modesto lugar, em uma estrada, isoladamente, encontrei uma outra personagem que fez parte da história de Jesus e que não foi citada em meu diálogo com os amigos: JUDAS.
JUDAS é aquele que na lista dos doze sempre é citado em último lugar. Ao vê-lo lá, na beira da estrada isolado, sozinho, pendurado e amarrado em uma vara enorme, recordei o sentimento que surge nas pessoas quando são colocadas diante desta figura ou deste nome: sentimento de reprovação e condenação.  Mas terá sido criado “o homem Judas” na história da humanidade apenas para ser aquele que entregou Jesus? Jesus, na confissão de Pedro, apresenta Judas como um diabo, aquele que deveria entregar a Jesus (cf. Jo 6,67-71); já no fim do ministério público de Jesus no relato da unção em Betânia, João apresenta Judas como o que iria trair a Jesus. Em Mateus 26, 20-25, somos colocados diante de uma ceia de Jesus com os Doze e na ocasião acontece o anúncio da traição de Judas. Jesus sabia que um iria traí-lo e diz: “Ai daquele por quem o Filho do homem for entregue! (...) melhor seria nem ter nascido.” Judas se acusa perguntando se será ele, Jesus responde: “Tu o dizes!”. Em Mateus 26,48 Judas é mais uma vez chamado de traidor. Dentro do relato da paixão, quando feita referência a Judas se fala que ele estava traindo Jesus (Jo. 18,2.5).
Percebamos que Judas na Sagrada Escritura fica marcado como o que iria trair ou como o que traiu. Nos evangelhos sinóticos (semelhantes – Mateus, Marcos e Lucas) quando se fala da lista dos Doze Judas é apresentado como aquele que já traiu Jesus (Mt.10,4; Mc. 3,19; Luc. 6,16). Portanto, podemos afirmar que a traição de Judas a Jesus se dá quando conversa ou no momento em que firma um trato com os inimigos de Jesus (Mt.26,14-26) e na ocasião do beijo dado em Jesus (Mt. 26,46-50). Mesmo traindo, Judas - o traidor de Jesus - é chamado e falado como “um dos Doze” (Mt.26, 14.47;Mc. 14,10.20; Jo 6,71; Lc.22,3), afinal foi escolhido por Jesus como companheiro íntimo para o ajudar na missão. Jesus por muitas vezes o chamou de “um de vós” (Mt. 26,21;Mc.14,18;Jo.6,70;13,21).  
Jesus em muitas ocasiões fez belas catequeses a respeito do perdão. Ensinou a perdoar quantas vezes fossem necessárias (Mt.18,21-22);  mostrou que assim como Deus perdoa, nós também devemos perdoar (Mc.11,25-26); Na correção fraterna, mostra a infinitude do perdão (Lc. 17,3-4); apresenta a necessidade do exercício do perdão (Cl 3,13); apresentou-nos sua ação em derramar seu sangue para nos perdoar (Mt.26,28). Enfim, Jesus muito falou sobre o perdão e pediu a cada um de nós que desenvolvêssemos a capacidade de perdoar, de amar a Deus e ao outro como nós mesmos.
Na tarde de sexta feira Jesus dizia: “Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem”. (Lc.23,34).   Será que Judas tinha noção do pecado, do erro, do mal que ele estava cometendo? O certo é que por Jesus ele foi perdoado. Quando percebeu o mal cometido, por meio de palavras e ações mostrou arrependimento. Conta o evangelista Mateus que ao ver Jesus condenado, Judas sentiu remorso e foi devolver as trinta moedas aos anciãos e chefes dos sacerdotes. E falou: Pequei, entregando um sangue inocente (Cf. Mt. 27,3-5), depois optou por enforcar-se. Jesus pediu perdão, nós, na Semana Santa pedimos perdão, mas será que aquele homem amarrado, pendurado esperando ser queimado por todos nós como uma grande diversão foi perdoado?
Hoje, ao passar pelo mesmo lugar onde avistei o boneco de pano pendurado representando Judas já não existia mais. Já virou pó caso tenha sido queimado, já foi destruído, derrubado e deve ter apanhado bastante, conforme se faz na cultura popular. E, infelizmente mais uma vez pregamos a paz, experimentamos o perdão de Deus, mas ainda nos demos o direito de condenar, de julgar e de conservar o ódio, contrariando as palavras de Jesus. Aqueles que sentiram na pele o perdão, foram os espectadores da falta de perdão, pois cultivaram a falta de perdão no ato de queimarem ou baterem naquele que entregou o Filho do Homem.
Na continuação do estudo sobre Judas depois iremos pensar um pouco acerca do motivo de Judas “escolhido por Jesus” entregar a Jesus. Aguarde!
Pe. Antonio Denilson - Pároco de Taperuaba

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