1. Por que a vida humana deve ser
respeitada sempre?
R.: Ao falar de vida humana, não
estamos apontando simplesmente para a constituição de sua identidade genética,
distinta de qualquer outro ser. O que torna a vida humana diferente da vida dos
demais seres vivos é o fato dela poder ser definida não só por sua dimensão
biológica, mas também por sua dimensão espiritual. Essa dimensão se concretiza
naquilo que chamamos de pessoa, que tem um sentido que ultrapassa todas as
esferas fisiológicas. Por pessoa humana entendemos a vida desde sua origem.
Pois, desde a concepção, a vida humana possui todas as potencialidades para se
desenvolver no ser humano que estamos acostumados a ver em nós e nos outros que
convivem conosco no dia a dia. Aquele ser que acabou de ser gerado não é uma
vida em potencial, mas uma vida humana com potencialidades, tanto fisiológicas
quanto espirituais. É verdade que somos seres biológicos, mas não seríamos
humanos se não possuíssemos uma dimensão reflexiva, social, cultural, política
e espiritual. Afinal, a vida humana não pode ser reduzida a um conjunto de
células, pois o que somos hoje se deve ao que ocorreu no dia em que fomos
concebidos.2. Qual é a situação dos bebês anencéfalos? Têm morte cerebral?
R.: A expressão anencefalia
(ausência do encéfalo) não parece muito adequada. O mais apropriado é o termo
meroanencefalia (ausência de uma parte do encéfalo). Isto se justifica porque,
sendo o encéfalo um termo muito complexo, falar de sua ausência total pode
indicar uma imprecisão. A anencefalia, assim chamada comumente, é um mal
congênito, isto é, ocorrido durante o desenvolvimento embrionário. As causas
podem ser variadas, como a ausência de ácido fólico no organismo materno. Os
anencéfalos podem viver horas e até dias. Dependendo do grau de anencefalia,
estes bebês podem ter alguns movimentos, além de respirar. De modo geral,
possuem alguma atividade tronco-encefálica e, justamente por este motivo, não
podemos dizer que houve aí morte cerebral. No caso de morte cerebral, o cérebro
não dá mais comandos para o resto do corpo e respiração é mantida
mecanicamente.
3. A gravidez de um anencéfalo põe em risco a vida da mãe?
R.: É preciso, antes de tudo,
considerar que qualquer gravidez envolve riscos. Desta regra não escapa a
gravidez de anencéfalos. Em outras palavras, os riscos para uma gravidez de
anencéfalo são os mesmos para uma gravidez comum. É preciso levar em conta
também que a proporção de anencéfalos nascidos é bem menor do que a dos demais
bebês. Vale dizer também que não se observa no número de mulheres que morrem
durante a gravidez ou no parto o fato de estarem todas grávidas de anencéfalo.
4. O sofrimento de uma mãe neste estado
justifica o abortamento do bebê? A vida e o sofrimento dele não conta?
R.: Apesar de o sofrimento ser
muito grande para uma mulher grávida de um bebê anencéfalo, o abortamento não
se justifica. Trata-se, antes de tudo, de uma vida humana. O anencéfalo não
terá a mesma qualidade de vida que um bebê normal, mas isto não significa que
não tenha a mesma dignidade. Muitos confundem dignidade com viabilidade. A
dignidade não está vinculada a um órgão específico. Pela ausência de uma parte
do encéfalo o bebê não será um ser humano como os demais, mas será um ser
humano e, justamente por isso, terá de ser respeitado até o fim. A deficiência
de um ser humano não o torna menos digno, mesmo quando esta deficiência é uma
meroanencefalia. Os que defendem o aborto para diminuir o sofrimento do
anencéfalo são os mesmos que, curiosamente, definem a anencefalia como morte
cerebral. Bom, se há morte cerebral não há sofrimento. Por outro lado, se há
sofrimento é porque está vivo. A vida de um anencéfalo é curta e durante seu
curso tudo será feito para que não haja nenhum sofrimento, o que ocorre com
qualquer outro tipo de paciente. O sofrimento é objeto do cuidado médico. A
Medicina não existe para matar pessoas que sofrem, mas para lhes dar o alívio
da dor e, dentro de suas reais possibilidades, a cura.
5. Quais as implicações
psicológicas para a mãe que interrompe a gravidez de um bebê anencéfalo?
R.: Ao levar a gravidez de um
anencéfalo até o fim, a mulher sofre muito. Mas é igualmente verdade que o
sofrimento não é menor quando se apela para o aborto. Em todos os casos o
sofrimento é incalculável, pois não existe instrumento que possa medir e
comparar um sofrimento com outro. No entanto, ao abortar um anencéfalo os
conflitos psicológicos podem se traduzir em traumas e sentimentos de culpa que
acompanharão a mulher por toda a sua vida.
6. Como amparar a mãe durante a gravidez de uma criança anencéfala?
R.: O afeto é essencial neste
momento. Será preciso deixar claro que a anencefalia não é um castigo e nem
culpa da mãe. Algumas mulheres acreditam que tal fato ocorreu porque em
determinada altura da gravidez houve, de sua parte, um sentimento de rejeição.
Tais pensamentos devem ser eliminados. O casal deve estar bem unido e numa constante
troca de sentimentos e atenção. O marido deve encorajar sua esposa a manter
firme a esperança e manifestar a ela seu amor nos momentos de maior angústia e
apreensão. O médico deve respeitar o momento difícil e expor, com simplicidade
e abertura, todo os fatos que envolvem aquela circunstância. Os familiares e os
amigos, respeitando os sentimentos da mãe, devem demonstrar maturidade nas
posições, sem a intenção de induzir posturas contra a vida. Neste momento vale
falar sobre o sentido da vida e dizer que um bebê anencéfalo não é uma coisa ou
um monstro, mas um ser humano que apresentou falhas no curso do seu
desenvolvimento e isso o levou a uma deficiência incorrigível.
7. Há absoluta certeza na palavra médica que diagnostica a anencefalia?
R.: Atualmente é possível
diagnosticar a anencefalia sem muito erro, mas é bom esclarecer que há graus de
anencefalia. Como foi mencionado anteriormente, o termo mais adequado é
meroanencefalia, porque indica que parte do encéfalo está ausente. Pois o grau
da anencefalia está relacionado com a parte ausente.
0 comentários:
Postar um comentário